No passado dia 5 de junho foi publicada a sétima edição do Ankama Pas Live, onde vemos um pouco mais do universo da Ankama. Nesta edição tivemos uma entrevista a Tot, onde o presidente da Ankama falou um pouco sobre os seus projetos. Trazemos aqui uma breve análise da parte onde é discutido o futuro da série. Se quiseres ler a entrevista, o transcrito em português está mesmo abaixo!
Nesta entrevista, vemos Tot a falar sobre os seguintes aspetos:
- História da Ankama e o papel das comics e série animada;
- Inspiração para as personagens da série animada;
- Notas relativamente ao rumo a tomar no que toca à história da quarta temporada;
- A sua abordagem relativamente à profundidade dos seus vilões;
- O porquê de fazer um Kickstarter (custo dos episódios, possível despertar do interesse de canais franceses).
Segundo as palavras de Tot, poderemos vir a conhecer o passado de personagens pouco exploradas como a Evangelyne, Ruel e Amalia, havendo a possibilidade de deixar o passado de Tristepin e Yugo um pouco para trás. Tot revela o seu ponto de vista e necessidade que sente de tornar os seus vilões mais complexos, com objetivos honestos e reconhecíveis por parte do espectador, deixando no ar a possibilidade de virmos a ter um vilão menos carismático nesta temporada em detrimento do foco que se pretende dar às personagens da nossa Confraria do Tofu.
Entra-se também em detalhe nos motivos que levaram à abertura do Kickstarter - desde o planeamento feito para a terceira temporada até aos acordos feitos com canais franceses e a Netflix, podemos ver Tot a falar um pouco das suas frustações. De um ponto de vista financeiro, Tot dá-nos ainda números algo grosseiros do quanto custa a produção de Wakfu à empresa.
Tot fala ainda sobre a possibilidade de um bom desempenho do Kickstarter poder vir abrir novas portas para a Ankama e a série animada, acrescentando o contacto já realizado com diferentes emissoras.
Melhor que te guiares pela nossa análise, que tal leres a entrevista? Aqui tens o transcrito em português (do Brasil) da entrevista!
Djinn (entrevistador):
Djinn (entrevistador):
Olá a todos! Eu sou o Djinn e
hoje estou aqui com o Tot. Olá, Tot!
Tot:
Olá
Djinn (entrevistador):
Para quem não conhece o Tot, vamos
fazer uma rápida apresentação. Quem é você Tot?
Tot:
Quem sou eu? É verdade que já
faz muito tempo que eu não apareço na tv Ankama. Eu sou um dos três fundadores
da Ankama, sou diretor criativo e também presidente da empresa.
Djinn (entrevistador):
E seu papel no WAKFU, qual é?
Tot:
Eu faço parte do grupo que
cria o universo do WAKFU. O universo do Krosmos, no geral. É claro que eu não
fiz tudo sozinho. Escrevi bastante sobre ele e também faço bastante game
design.
Djinn (entrevistador):
OK. Hoje, vamos falar do
Kickstarter. Estamos nos preparando para lançar um Kickstarter propondo à
comunidade nos ajudar a criar a 4ª temporada do WAKFU. Você é o criador da
série WAKFU. Você já trabalhou nas 3 primeiras temporadas. Qual foi a ideia
inicial do WAKFU? O que foi que inspirou você para lançar essa série?
Tot:
Eu cheguei a explicar em
outras entrevistas. No começo da Ankama, nós criávamos sites para marcas. Mas
nosso objetivo, que está no estatuto da empresa desde a sua criação, e isso já
faz 19 anos (a gente era muito jovem!), era criar um jogo, uma série, HQs. Tudo
que tivesse a ver com diversão. Na época a gente não tinha nada. Mas graças ao
DOFUS, conseguimos começar a editar HQs sobre o nosso universo. Acabamos
percebendo que era muito mais simples editarmos nós mesmos as HQs e colocá-las
nas livrarias do que pagar milhões de euros para publicidade na televisão ou em
revistas. Divulgamos o nosso universo e nossos jogos através dos produtos
derivados. Depois das HQs, dos artbooks, das pelúcias e miniaturas. A gente
estava sendo movido tanto pela ambição de dar vida, dar credibilidade ao nosso
jogo, quanto pelo nosso desejo de fanboys de fazer nossa própria série. Estava
decidido: a próxima fase seria uma série de televisão. Seria um desafio, daria
muito trabalho. Mas pensamos que seria o melhor para tornar nosso universo
conhecido. Foi isso que nos inspirou. Foi realmente a divulgação do nosso
universo em relação à sua criação, não sobre o investimento em publicidade ou
estratégias clássicas de marketing. O desejo de criar nossos personagens nos
incentivou, de apresentá-los e trabalhar a divulgação dessa forma.
Djinn (entrevistador):
Então foi para contar a
história e dar vida ao mundo que você criou?
Tot:
Que nós criamos tudo em volta
do DOFUS. Impulsionar, desenvolver os personagens, desenvolver o universo e nos
divertir com tudo isso. Eu sempre fui apaixonado pela ideia de criar histórias.
Ao longo desses anos, a gente conseguiu se divertir.
Djinn (entrevistador):
Você criou a Confraria do
Tofu, que é uma galeria de personagens. De onde surgiram esses personagens?
Tot:
Do meu entorno. Dá pra
reconhecer algumas pessoas. O nome do meu filho é Hugo e o herói se chama Yugo.
Então mal está escondido. Elely é a
mistura do nome da minha filha, Lily, com o nome da sua priminha, Elena. Com
isso temos uma personagem chamada Elely. Flopin, é um priminho. O Nox, por
exemplo, eu me dediquei muito a ele, principalmente no episódio especial, nesse
eu me entreguei muito. Minha esposa é a Galante. Aliás, ela tem a mesma
silhueta. Um tamanho parecido, e meio que a cintura como a dela. Eu coloquei um
pouco dos meus medos, dos meus traços problemáticos no Nox. E no episódio
especial, dá pra perceber bem. Porque quando o vemos rolando na cama, ele só
consegue pensar no seu Eliacubo, no meu caso, o Eliacubo era a Ankama. O
Eliacubo dá ao Nox, que é um relojoeiro comum, a possibilidade de criar tudo o
que ele queria. A Ankama deu isso ao Tot, que é um artista comum, a
possibilidade de criar tudo que ele queria. Enfim, existem muitas ligações como
essas. Evangelyne é a minha irmã. Mas ela não se deu conta logo de cara. Outros
da família perceberam antes que ela. A Julith do filme DOFUS é minha esposa. Além
disso, eles vivem aventuras que são necessariamente desconectadas das vividas
no meu entorno. No episódio do Noximiliano, foi uma certa surpresa para minha
esposa, pois eu me entreguei muito. A história: no dia do episódio a gente
estava com uns vinte amigos na casa. Isso foi há uma década, no canal France 4.
A transmissão foi às 20h, por ser um pouco demais para as crianças. É um
episódio particularmente pesado. Minha esposa não tinha visto. Foi uma
surpresa, bem... uma surpresa ruim. Porque estávamos em 20 colegas que tinham
participado do desenvolvimento do projeto. Quando ela assistiu pela primeira
vez. Não tínhamos tantas cadeiras, ela estava sentada no chão, bem na minha
frente. E eu vi que ela tremia um pouco. Aí percebi que ela choramingava. E
teve um momento em que ela se virou, assim, com um olhar que dizia: “O que é
que você fez? Você contou nossa vida, assim”. Ela ficou brava comigo por uma ou
duas semanas, mas depois passou.
Djinn (entrevistador):
Então são reflexos de aspectos
da personalidade, das pessoas que você conhece? Não são necessariamente
caricaturas ou representações fiéis?
Tot:
Não, eu nunca faço
caricaturas. No geral são pessoas que eu gosto muito ou que têm um lugar na
minha vida, que me inspiram. E além disso, que me permitem desenvolver personagens
que possuem cor. Eu acho que muitos autores fazem isso. Eles se inspiram no seu
entorno, nas situações que vivem. Assim, quando a gente tem uma referência,
como essas, fica mais fácil de nos expressarmos.
Djinn (entrevistador):
Acho que não passamos um dia
na Ankama sem alguém falar, pelo menos uma vez, o nome de um personagem do
WAKFU. São membros da nossa família, na verdade, e os entendemos melhor quando
sabemos que também são membros da sua. São personagens que possuem profundidade
e nuances. E penso que também é isso que faz a série ser tão apaixonante e
irresistível. Nós os vimos evoluir na 1ª temporada, na 2ª temporada e na 3ª
temporada. Eles se mudaram muito desde o começo. Ocorreram algumas
transformações épicas. Hoje, vamos falar da 4ª temporada. A gente anseia por
esta história. Você já sabe o que vai contar na 4ª temporada?
Tot:
Sim e não. Eu sei o que eu
tenho vontade de contar. Mas tenho vontade de contar tantas coisas que nem sei
por onde começar. Nas temporadas anteriores, geralmente eu partia do ângulo do
vilão. Eu desenvolvia um vilão que me agradava. Seja o Qilby, o Nox, o Oropo, ou
até mesmo, no filme DOFUS, com a Julith. Eu me concentrava no vilão, e ele se
tornava o desafio dos bons. Essa era minha receita. Eu pensava: os vilões
primeiro, depois os heróis viviam uma aventura de acordo com os objetivos do
vilão. E é isso que faz com que os fãs adorem os vilões do nosso universo. No
fim, eles existem. E eu acredito que um vilão que a gente gosta, é um vilão que
a gente entende. Quando ele começa a ter um tipo de debate moral, quando que
ele explica seu plano, seus motivos. É aí que nós, espectadores, dizemos: “É,
eu entendo. É o limite... Eu não faria o que ele fez, mas entendo porque ele
fez”. Eu adoro trabalhar este aspecto nos vilões. Na 4ª temporada, decidi ir
nesta direção: tenho os vilões, antagonistas, porque nunca são grandes vilões,
de fato. Eles sempre tem uma motivação... Então eles são meus antagonistas, mas
percebi que com esses personagens eu não vou poder fazer novamente o que pude
fazer com os vilões anteriores. Então, nesta 4ª temporada, eu gostaria de,
sobretudo, desenvolver os heróis e explorar o passado deles. Começamos a fazer
isso na 3ª temporada, sobretudo com o Yugo, Oropo e com o que pode ter
acontecido. Eu adoraria fazer a mesma coisa com o Ruel e sua esposa. Talvez a
gente possa fazer isso. Com a Evangelyne. Tristepan, que é quase o herói da
série, tanto quanto o Yugo. Vou precisar deixar ele um pouco de lado, dele já
sabemos muito. Por outro lado, da Evangelyne não sabemos nada. Existem muitas
coisas que eu tenho vontade de fazer. Eu também adoraria me concentrar um pouco
na Amália. Em relação às temporadas anteriores, talvez desenvolver um pouco
mais os heróis. O vilão talvez não tenha tanto (mesmo assim vamos tentar), tanto
carisma quanto os anteriores. Vamos ver.
Djinn (entrevistador):
Sabemos que você cria vilões
que têm uma dimensão, uma profundidade, que têm nuances, como você diz.
Tot:
Eles nunca são completamente
vilões. É o que tentamos.
Djinn (entrevistador):
Mas isso também é verdade para
os heróis, que são igualmente cheios de nuances.
Tot:
Pessoas 100% boas ou 100% más,
não sei se isso existe, na verdade. Além disso, mesmo os que são 100% maus,
porque pode-se dizer que até existem personagens ilustres que são 100%, ou até
2000% maus. Mas quando eles se tornaram assim? Em que momento? Que trauma
viveram antes de atravessarem essa fronteira? É isso que é interessante nas
histórias. Quando eu assisto Disney, ou coisas desse tipo, sinto um certo
incômodo. Falta um pouco de nuance. Sempre lembro da propaganda da “Orangina
vermelha”. “Por que ele é tão malvado? Porque sim!” Tá bom, tá certo, então. Já eu, acho estes
personagens mais fascinantes. Os que são atormentados, traumatizados, que se
incomodam consigo mesmos. No fim, acho isso mais interessante. Porque todos
somos mais assim do que como os que são ou oito ou oitenta. E isso também vale
para os heróis... O próprio Yugo já fez coisas terríveis. Para mim, é isto que
eu adoro neste personagem. De passar estas ideias terríveis. O que ele fez com
o Qilby na 2ª temporada, é muito sujo. Mas ao mesmo tempo, ele não tinha escolha.
No lugar dele, qualquer um diria: “Tudo bem, alguém tem que fazer”. O que ele
fez é horrível. Colocar alguém em um prisão daquela, deixá-lo sozinho,
trancado, sem noção de tempo. É repugnante. Ele já tinha ficado louco por causa
disso, e agora foi mandado de volta. Mas o Yugo faz a mesma coisa de novo,
porque é mais fácil, moralmente, do que matar ele. Mas na verdade é pior. Então,
ter personagens que são obrigados a fazer escolhas como essas, enquanto heróis,
eu adoro isso. Uma das coisas que eu adorei na 2ª temporada, qualquer que seja
a resposta dos fãs, foi isso. Durante toda a 1ª temporada, eu quebrei a cabeça
porque diziam que o Qilby tinha muito menos carisma que o Nox. No final da 2ª
temporada: “Ah! Tá certo que é o Qilby, mas foi horrível o que o Yugo fez”. E
teve toda uma discussão em torno disso. Não sei se o Qilby tinha tanta
importância quanto o Nox, mas, de repente, ele passou a existir e se tornou um
personagem torturado, quase um mártir. É legal quando conseguimos chegar a
isso. É um prazer trabalhar o psicológico de personagens como ele. E ainda,
depois ver gente falando e debatendo sobre o assunto. É legal demais.
Djinn (entrevistador):
Eu penso na história dramática
do Ruel, penso na evolução da Amália também. Têm certa complexidade. Então você
diz que a 4ª temporada será focada nos protagonistas?
Tot:
Eu vou partir do princípio que
ela será, possivelmente, a última. Se for mesmo a última, vou me concentrar
mais nos heróis do que em um vilão que pode vir a tomar todo o espaço. Eu
realmente quero que eles sejam os verdadeiros heróis. De qualquer forma, se
terá uma sombra que irá pairar sobre eles e sobre a lenda deles, vamos ver. Tenho
duas ou três ideias que eu com certeza quero fazer e que podem ser muito
legais. Vou desenvolver elas em volta da Confraria.
Djinn (entrevistador):
Então resolvemos começar um
Kickstarter. Por que um Kickstarter para esta temporada 4?
Tot:
Por que um Kickstarter? Bom, nas
temporadas anteriores, sem contar os três especiais, que foram formatos
especiais negociados com a France Télevision. Falando das temporadas 1 e 2. Portanto,
nas temporadas anteriores, eu me acostumei com blocos de 26 episódios. E isso
nos dava tempo, mesmo com vários episódios independentes, ou seja, que podiam
ser vistos como não sendo parte da trama principal. Era meio que um jogo com a
France Télévision, na época eles não queriam uma série, de fato. Tivemos que
bater o pé um pouco, dizendo que não seria completamente uma série. Seriam dois
episódios ligados, três papabol no meio, e por trás conseguiríamos estabelecer
um fio condutor. E é aí que viraria uma série. Mas acredito que também foi isso
que fez sucesso no WAKFU. E me acostumei com estes 26 episódios. A gente tinha
tempo para posicionar as coisas, criar as pequenas conexões, mesmo às vezes
pouco perceptíveis, criar as relações entre os heróis, independentemente do
vilão e das suas motivações. Depois, quando eles reencontravam o vilão, pronto,
aí a série ganhava dimensão. Na 3ª temporada, acho que eu já expliquei, talvez
pro Iro Sef (Youtuber) quando ele veio e a gente fez um vídeo. Não me lembro
bem. É a idade. Na 3ª temporada, estávamos empolgados, e como gostávamos, achei
que conseguiríamos fazer facilmente 26 episódios. Sabia que a Netflix aceitaria
13. Já tínhamos conversado. Eles não compram mais que 13, com isso eles podem
testar. Mas com o sucesso do WAKFU, com os fãs antigos, eu estava convencido de
que teríamos audiência no France Télévision. Porque, na verdade, vendemos a
série para a France TV para a França, e para a Netflix para o resto do mundo. Eles
tinham os direitos para o resto do mundo. Achei que, com os dois, ia dar certo.
Então seriam treze episódios, com a intenção de, no final, poder emendar
rapidamente até o 26. Mas acabou não sendo nada disso. Foram 13 episódios, e
depois mais nenhum. Aparentemente não teve muito sucesso na Netflix. E houve
uma mudança de direção na France Télévision. É sempre assim. Se um diretor de programas para a juventude lança uma série, seu
sucessor é menos propenso a continuar com ela. Não é o bebê dele, então não é
tão importante. No France 4, nós subimos um pouco o público-alvo, a idade. No
France 4 tínhamos obrigatoriamente menos audiência que no France 3, pois o
canal é simplesmente menos visto, menos presente que o France 3. Apesar de
tudo, conseguimos uma ótima audiência. Mas depois de perguntar várias vezes:
nada de relançar. “É complicado, o que você quer fazer depois? -Ah, a
continuação. - E a idade? - A mesma que na 3ª temporada, seguimos na mesma
ideia.” Falava 4ª temporada, mas pensava 3ª temporada, parte 2. E depois nada,
isso acabava com a gente. Nós trabalhamos como doidos no WAKFU. Acho que dá pra
perceber. Mesmo quem não gosta não pode dizer que não trabalhamos duro. Dá pra
ver pela nossa aparência, dá pra perceber em tudo. Nós realmente trabalhamos
duro neste universo e na série. E quando você está cheio de esperança por causa
da energia que você investiu, e do seu esforço para aumentar a qualidade a cada
dia, e finalmente, a recompensa não está no fim do túnel... Isso acaba com
qualquer um. Agora não temos dinheiro, então fica complicado. E isso nos deixa
quebrados, mesmo criativamente falando. Depois da série, precisei de um ano de
recuperação, meio como no filme DOFUS. Fiquei traumatizado por 3 coisas. Quer
dizer, traumatizado não, não vou exagerar. Não fomos nada mal, mesmo assim.
Djinn (entrevistador):
- Desanimado
Tot:
- Isso. Mais que desanimado,
menos que traumatizado. Tem um ponto entre esses dois. A falta de sucesso do filme DOFUS. Eu e meu
amigo JJ, precisamos de 6 meses para nos recuperarmos. Foi muito difícil. Welsh
e Sheddar, na época já fazia 10 anos que eu trabalhava como um doido nesta
série. Foi tudo por água abaixo, e depois, no final, fizemos o Kerubim. Eu
fiquei com tanta raiva que para o Kerubim só escrevi 1 episódio de 52. E depois a 3ª
temporada WAKFU que não ia a lugar algum. Eu tirei um ano para me recompor.
Além disso, a verdade é que, querendo ou não, no Twitter e nos fóruns, quando
você tem gente que torce por você, várias vezes por dia, que ficam martelando a
mesma coisa. É como a minha filha em casa. Com 15 anos, quando ela quer alguma
coisa ela pede dez vezes para os pais. “- Eu posso ganhar? - Não. - Eu posso
ganhar? - Não. - Eu posso ganhar? - Tá bom.” A verdade é que uma hora, o lado
deprimente da coisa, da falta de sucesso, talvez até um pouco de falta de, não
de respeito, mas do olhar dos seus parceiros, e justo sobre todo o trabalho que
você teve... Isso machuca. Mas isso é compensado pelos fãs que nos impulsionam.
Por outro lado, está claro que é impossível para nós financiarmos 100%. Então,
sempre que alguém me dizia: “Faz um Kickstarter, um crowdfunding, um
financiamento participativo.” Eu respondia no Twitter. Se eu precisasse contar
os tuítes em que eu disse: “É impossível, nunca vamos conseguir”, acho que
seriam muitas mensagens. Além disso, chega uma hora que você segue seu caminho.
Você pensa “Por que não?”. É verdade que isso nos daria a oportunidade de
fechar com chave de ouro. Até mesmo, se der certo, por que não imaginar outras coisas?
E se o Kickstarter funcionar, talvez possamos, com o engajamento dos fãs e de
acordo com o número de pessoas que participariam, até mesmo atrair uma
plataforma, ou um canal, para retomar o projeto. Hoje, quando falo com eles,
sempre escuto: “Sim, sim. Vamos pensar no assunto”. Mas na verdade nunca
pensam. Se eu chegar com os números de engajamento da nossa comunidade, com
certeza a história será outra. Por outro lado, para um Kickstarter, nós mesmos
precisamos nos engajar, precisamos ter uma produção mínima. É verdade que isso
também é arriscado, mas hoje vamos correr o risco, vamos fazer. Mas vocês
descobrirão...
Djinn (entrevistador):
Durante o Kickstarter, na
segunda-feira.
Tot:
Segunda, durante o
Kickstarter, isso. Vocês saberão mais sobre nossa proposta. Vamos fechar um
mínimo de episódios que serão financiados pela Ankama. Não poderemos fazer
todos. E sua continuação dependerá de vocês, ela dependerá dos jogadores. Este
é o outro lado da moeda. Por outro lado, ficaremos animados como doidos... Cada
um de nós vai perder 5 anos de expectativa de vida. Vamos nos animar como
doidos para fazer uma nova temporada. Isto será incrível. Então, a ideia é que
a comunidade contribua, em parte, com o financiamento dos episódios, mas a
Ankama vai financiar a maior parte desta produção. A não ser que consigamos
convencer as emissoras, dizendo a eles: “Olha só, tem muita gente preparada
para nos seguir que virão até vocês para ver os episódios”. Já anunciei para as
nossas antigas emissoras o que iremos fazer, portanto existe uma retomada do
interesse. E eles certamente vão ficar de olho. Mas mesmo com um sucesso
enorme, não é certeza que eles retornarão logo em seguida, nas condições que
desejamos. Portanto, em algum momento, também será necessário ter um mínimo de
engajamento. E isso não é evidente. É importante entender que as animações, na
França, são auxiliadas pelo CNC. Você precisa de uma emissora, um canal da tv
francesa. Se não tiver um canal, você não terá o auxílio do CNC. E é assim. Sem
canal, sem auxílio. Com isso, se você não tiver o canal francês, a pena é
dobrada. Sem canal francês, sem auxílio francês.
Djinn (entrevistador):
Porque, a grosso modo, a
emissora vai comprar a série, e com isso financiar uma parte dela. Paralelamente,
existem os auxílios fornecidos para contribuir com o resto do financiamento.
Tot:
É isso. Por exemplo, em uma
série como WAKFU, um episódio custa no mínimo 300.000 euros, os antigos
custavam entre 300 e 400.000 euros por episódio. Custa uma fortuna produzí-los
na França. E fazemos tudo na França. Portanto custa uma fortuna trabalhar desta
maneira. Mas é isso que garante a nossa qualidade. Então, para 10 episódios, é
simples, não fica longe dos 4 milhões de euros. Quanto a isso, é necessário que
o canal invista 30% do orçamento. Para ser eligível ao CNC, são necessários os
30% do orçamento. Se o canal fizer isso, o CNC oferece auxílio. Portanto, com o
CNC e o canal, teremos por volta de 50% do orçamento da série. Isso é para a
França. Neste ponto, será a hora de ir buscar os canais estrangeiros e vender
sua série em todos os países do mundo. Levou 10 anos para rentabilizar as
temporadas 1 e 2 do WAKFU. Hoje são rentáveis. Mas foram 10 anos. É por isso que
são poucos os produtores capazes de produzí-las. Porque é preciso ter
capacidade para isso. Foram 10 anos para cobrir os custos da série. Vendendo,
renovando contratos. Alguns países como Bélgica, Alemanha e Estados Unidos, as
adquirem por 2, 3 anos e transmitem nas suas plataformas e canais locais. Depois
podemos recuperar direitos, revender. Formando um ciclo. É extremamente
complicado, de fato. Para uma série como a que estamos propondo, aqui no
Kickstarter, nós iremos investir, por episódio, 100.000 euros do bolso da
Ankama. É uma quantia enorme. Eu não sei se eu posso falar, mas nós vamos financiar os 3 primeiros. Vocês
já tem uma ideia do quanto isso nos custa. No fundo, precisaremos da ajuda do
Kickstarter e também encontrar um canal. Agora eu acredito, hoje eu acredito. Um
ano atrás eu não tinha a mínima vontade de fazer isto. Porque eu absolutamente
não acreditava. Hoje, por causa das conversas com os fãs e de ver o entusiasmo
causado pelos vídeos que postamos, me convenci de que existem fãs no mundo
todo. Se cada um contribuir um pouquinho, está ótimo. Então vamos tentar.
Djinn (entrevistador):
A ideia deste Kickstarter é
que os fãs mostrem seu interesse. Isso nos permitirá mostrar às emissoras que
existe muita gente connosco. Que financiaram uma pequena parte do projeto. Cabe
dizer que não existe doação inútil, porque, em primeiro lugar, isso nos mostra
seu interesse, a contribuição, propriamente dita, vem em segundo lugar. A
partir de um certo nível de doações, nós também recompensaremos o investimento.
Uma parte será financiada pelos fãs, uma grande parte será financiada pela
Ankama. Vamos tentar convencer as emissoras. E seja como for, se alcançarmos
pelo menos o primeiro patamar, nós vamos.
Tot:
Sim, se alcançarmos o primeiro
patamar, que não é tão elevado assim. Não tenho dúvidas. Mas precisamos ir mais
longe, porque se só alcançarmos o primeiro patamar, vai ser um pouco triste. Vamos
fazer alguma coisa. Vai ser difícil, mas pelo menos teremos conseguido um
engajamento e o manteremos. Também é por isto que não queremos ir muito rápido,
fazendo de qualquer jeito. As consequências são muitas, e tem muita gente que
não entende que elas não são só financeiras. São também, é verdade. Hoje
podemos assumir. Por amor pela nossa comunidade, pelos nossos fãs, pelos nossos
personagens também, nós faremos. Isso não nos preocupa. Mas também é preciso
entender que há mais riscos que isso. Outro risco é que, ao fazermos isso, não
teremos tempo para outras coisas. E, possivelmente, fazendo isso não teremos
tempo para outras coisas mais rentáveis para a empresa. Isso não deixa de ser
um risco. Mas existe amor demais por este universo, por estes personagens, para
deixá-los para trás. Só de pensar na Confraria e imaginar que talvez ela não
tenha continuação, só de pensar já quase me dá vontade de chorar. Sinto que não
podemos terminar assim, não pode ser.
Djinn (entrevistador):
Então é isto, Tot, eu agradeço
muito por você ter tirado um tempo para conversar conosco.
Tot:
Foi um prazer!
Djinn (entrevistador):
Nos reencontramos na segunda,
para o Kickstarter da 4ª Temporada do WAKFU. Vocês entenderam que isto é muito
importante para nós, e muito importante que vocês mostrem que estão connosco, que
nos apoiam. Nós vamos mergulhar de cabeça nesta história que ocupa um lugar
imensamente especial no nosso coração. Até a próxima!
Tot:
Obrigado!
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